quarta-feira, 10 de março de 2010

Palavras não mudam nada!

Eu não estou confusa. Está tudo muito bem organizado na minha cabeça. Eu sei o que eu quero, mas sei muito bem também o que eu não posso. E é essa impotência que me incomoda. Porque, se não pode ser sim, a única resposta que sobra é não.

Eu até sei dizer, dá explicações, mostrar todos os porquês, os prós e contras, mas eu não tenho a menor vontade de fazer nada disso. Palavras não vão mudar nada, não vão resolver nada. Palavras não mudam o sentimento dentro do peito, não fazem instantaneamente parar de sentir. Continua tudo aqui, só que nem tudo ainda pode ser dito e eu sinto falta das palavras.

As palavras mudaram tudo. As palavras já não são as mesmas. Tudo parece igual. Ainda há conversas, ainda há simpatia. Tudo parece muito natural. Mas a falta de palavras antes presentes revela. Não mais “amor”, não mais “meu bem”. O impulso ainda existe, mas a hesitação denuncia. O bem não é mais meu.

Eu não to preocupada em estar livre, apenas precisava te deixar livre pra escolher se você quer está livre ou não. Eu sinto tanta coisa que não posso dizer. Por isso escrevo. Escrevo mas acho que não faria bem a ninguém me ler. Escrevo pra ninguém, mas, mesmo assim, eu continuo na busca de palavras que consigam exprimir o inexprimível, o sentimento que as palavras não alcançam.

Existem dores que são indizíveis, por isso precisam ser gritadas, choradas, expurgadas. Eu sinto e não cabe dentro de mim, transborda. Mas como meu drama pode não ser entendido, pode ser condenado, eu insisto em procurar palavras, as suas ‘mais insuportáveis combinações, numa busca vã de um peso equivalente ao imensurável’. Escrever é minha fuga e minha terapia. Eu me entendo escrevendo.

Se eu não consigo dizer é quase como se eu não pudesse sentir. Li uma vez que nós pensamos por palavras e, quanto maior for o nosso vocabulário, mais precisos serão os nossos pensamentos, mais rigorosos, mais vastos. Concordo com isso, embora sentir anteceda as palavras.

Eu tenho um caso de amor com as palavras, com sua beleza, com seu sentido único, elas não estão ali por acaso. Se está escrito ‘lindo’ e não ‘bonito’ é porque existe uma intensidade exata da beleza. Às vezes, chega a ser engraçado quando escolho palavras pouco usuais e alguns acabam não me entendendo e até me corrigindo.

Para certas coisas não existem sinônimos. Eu sempre reparei nas palavras. Por isso tão chata com o que escrevo, por isso sou tão critica com traduções mal feitas. Por isso escolho bem as palavras, ainda que, às vezes, elas não mudem nada.

"Eu vou me acumulando, me acumulando, me acumulando - até que não caibo em mim e estouro em palavras."  Clarice Lispector


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minha trilha dessa vez

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