segunda-feira, 16 de agosto de 2010

(In)Diferente

Posso parecer não muito dada a mudanças, mas isso é só impressão. Mudar faz parte da vida. É importante e necessário pra sobreviver.

No entanto, nem todas as mudanças acontecem como um terremoto ou uma explosão e subitamente tudo que somos vira uma pessoa diferente. As mais importantes mudanças acontecem tão dentro da gente que a maioria das pessoas nem vai perceber. São pequenas coisas. Pequenos gestos. Mas elas fazem com quem o mundo nos pareça diferente.

E nem tudo precisa ser mudado. Algumas coisas precisam ser preservadas numa época em que tudo muda tão depressa. É preciso conservar certos valores, para que não se deixe de ser quem se é; não se torne uma outra pessoa tão diferente, que nem você mesmo se reconhece diante do espelho.

Certas coisas é preciso deixar pra trás. É preciso saber quando deixar de lutar por algumas coisas, quando abandonar outras. É preciso mudar defeitos. Mas, sobretudo, é preciso saber manter qualidades, mesmo que os sofrimentos da vida tentem nos endurecer. É preciso aprender a ser seletivos. E cada um precisa descobrir como e quando mudar.

Um belo dia você olha pra você mesmo e se sente diferente. Mas o que acho mais legal é olhar pra mim mesma e ver que mudei, cresci, amadureci! Aprendi a lidar melhor com certas situações, conheci outros pontos de vista, vivi outras experiências.

A mulher de hoje não cabe mais na menina de alguns anos atrás. Mas a menina de antes, continua aqui dentro. As tantas coisas que passei na vida me ensinaram muito. Me ensinaram a ser mais eu. Conseguiram ampliar ainda mais meu horizonte, sem anular a minha essência. Aprendi a ser mais seletiva.

 
"Sou como você me vê . Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania - depende de quando e como você me vê passar" Clarice Lispector


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Quando você pensa que já viu tudo e que já sabe tudo sobre mim, você ainda não viu nada! Ainda posso te surpreender, te emocionar, te fazer rir. E você pode achar o que quiser, só não pode ficar indiferente. Escrever sempre me ajuda a colocar pra fora sentimentos que precisam mudar.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Benefício da Dúvida

Hoje eu to aqui na Jaqueira. Sinto-me triste e só.

Não, não é por pensar nos casais de namorados, nem pela tristeza de não ter podido aproveitá-lo como meu lugar, ao lado do meu amor, nem ao menos uma vez. Não é pela saudade de quando eu tinha fôlego para as caminhadas freqüentes que me davam tanto prazer e me faziam sentir-me tão saudável. Não é por ficar olhando apaixonadamente as crianças brincando ou por sentir saudades das tardes e noites em que eu mesma brinquei nesse mesmo parque. Nem pelo medo de não chegar a ter crianças para trazer para brincar aqui.

Hoje me entristeci pela saudade de quem me acompanhou numa das últimas vezes que aqui estive. E que dividiu comigo os sonhos, os desabafos e que me ouviu falar sobre casais de namorados e crianças. Senti falta da amizade, da alegria, dos nossos papos, viagens, da nossa sintonia que dispensava legendas. Senti falta de fazer parte da vida dessa pessoa. Senti falta dessa pessoa em minha vida.

Por que parece tudo tão distante? Tão esquecido? Você desistiu de mim? Você não vai voltar? Não serei motivo? Não te faço sentir saudades? Como você pode deixar um vazio tão grande sendo tão pequeno?

Eu acredito. Eu te dou o benefício da dúvida. Mas tenho medo.
Será que o meu amigo, que eu conhecia, não existe mais?


“Não é fácil não pensar em você. Não é fácil. É estranho...
Não te contar meus planos. Não te encontrar.”
[Não é fácil – Marisa Monte]

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Qual a finalidade de enviar cartas que nunca são respondidas?! Cansei de ficar esperando respostas que não vêm. Das últimas que mandei, já nem espero resposta.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Futuro do Pretérito

Ela acordou e levantou de mansinho para não acordá-lo. Foi direto para o banheiro. Abriu a torneira e diante do espelho deixou a água escorrer entre seus dedos e molhou seu rosto...

Durante aqueles minutos de espera, muitas coisas passaram pela sua cabeça. Momentos... lembranças... Tudo que a havia levado até ali: o dia em que se conheceram, a maneira com que eles haviam se aproximado, se apaixonado. O primeiro beijo, o primeiro eu-te-amo. Os sorrisos, as mãos dadas. A primeira briga, a primeira reconciliação.

Os dias que pareciam não passar quando estavam longe. As lágrimas, a saudade. A tristeza quando se desentendiam, a alegria quando se reencontravam. O dia que ele a pediu em casamento. A surpresa. A maneira que ela disse sim. A primeira vez... O jeito que só ele a olhava unindo desejo, respeito, paixão.

O olhar dele cada vez que ela vestia a sua bata pra ir trabalhar. A maneira com que continuavam a se despedir com beijos antes de saírem. A maneira como que eles se reencontravam após cada dia de trabalho, como se tivessem passado uma eternidade sem se ver. A maneira dele a despir da bata quando ela chegava.

A maneira desajeitada dele pedir desculpa quando sabia que a tinha magoado e o jeito com que ele a abraçava quando ela chorava. O jeito que ele a deixava nervosa quando ficava calado e ela não sabia o porquê. A maneira com que ele lhe passava as mãos nos cabelos e que envolvia a sua cintura. A maneira que ele cantava todas as músicas como se fosse pra ela sempre que ensaiava as notas na sua guitarra favorita.

Os momentos em que eles respiravam o mesmo ar, eram o ar um do outro. O sorriso dele, o sorriso dela quando apenas pensava nele. As brincadeiras, as guerras de pipoca, os beijos de brigadeiro. Os dias que ela pegava no sono enquanto ele via TV, deitados no tapete da sala. Todas as comédias que ela não ria, todos os romances que ele não chorava. O quanto ela era feliz por estar ali, pela vida que tinha, com ele fazendo parte. Ela sendo parte da vida dele.

Finalmente a confirmação: ela realizaria mais um sonho. Seria mãe de um filho dele. Daria a ele um filho seu. Sua alegria não poderia ser mais completa. Era um pedacinho da felicidade deles dentro dela.

Ela sorriu ao se ver radiantemente sorrindo no espelho. Abriu a porta do banheiro e o viu ainda deitado na cama... dormindo... sereno... como quem sorria de um sonho bom. Ela ficou alguns instantes sorrindo diante daquela cena... apenas observando ele dormir.

Resolveu que apenas iria voltar pra cama, pros braços dele, quem sabe entrar no seu sonho e fazer-lhe uma surpresa. Encostou no seu braço e isso bastou para que ele sorrindo a abraçasse e apropriadamente acomodasse as suas mãos sobre a barriga dela.

E ficaram os três ali.