quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Das coisas não ditas.

Há tanto pra dizer e tantas coisas que gostaria de contar. Te falar de como têm sido os dias, que simplesmente passam sem parar, e de tantos acontecimentos e esquecimentos, dos pequenos encantamentos de uma rotina agitada. Te contar do que ando fazendo, de como ando correndo. Eu provavelmente ia reclamar do cansaço e ia falar da falta que faz o teu abraço. Eu ia te contar de gente que você nem conhece, mas que faz parte de mim. Eu ia falar de quem nem eu conheço, mas que em algum momento me fez rir. Eu queria te falar de mim. 

Te encontrar pra um almoço, andar por aí com as mãos no bolso. Falar do tempo, dos dias de sol e vento, das chuvas desprevenidas, das sombrinhas esquecidas... É... o clima tem andado louco. Te contar do trânsito e de todo o sufoco, do casal apaixonado que vi no ônibus, ou das músicas que ouvi enquanto olhava a janela e me peguei sorrindo lembrando de você. 

Eu poderia te contar da minha imensa dor e chorar no teu ombro meus desalentos, te ver me acalmar de todos os meus medos, e a gente acabar rindo jogados no sofá. Eu poderia estudar te fazendo cafuné te explicando tudo aquilo que você nem queria saber. Te contar dos casos clínicos e te fazer de cobaia ao mesmo tempo. Te demonstrar todos os meus aprendizados do último curso, falar de todos os planos pro futuro, compartilhar minhas alegrias e as pequenas conquistas de cada dia.

Eu poderia te ligar, assim, como quem não quer nada. Apenas pra te contar o sonho dessa madrugada. Só pra falar da falta, pra fazer você saber dessa saudade calada, da saudade cansada de tanto desencontro. Poderia pedir colo e carinho. Reclamar dessa história de ter sempre que estar 'sozinho'.  Eu poderia dizer que te amo, sussurrar milhões de vezes baixinho. Ou quem sabe gritar e acordar todos os vizinhos.

Eu poderia dizer tudo isso mas já não te interessa ouvir. 
Foi você quem quis se perder de mim. 
O que não sabes é o quanto de mim ainda está perdido em ti.


         “Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo, e que então tudo vai ser mais claro, que não vai mais haver medo nem coisas falsas. Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir. São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis talvez de serem compreendidas - se um dia a gente se encontrar de novo, em amor, eu direi delas, caso contrário não será preciso.”  Caio Fernando Abreu.